terça-feira, 16 de outubro de 2012




CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA - "DUAS ASAS PARA VOAR"





















“Viajamos da Idade Moderna (século XVII e XVIII) para a Transmoderna, da Idade da Razão (Revolução Científica e Iluminismo) para a Idade da Consciência no seu mais amplo sentido”, segundo o psicólogo e antropólogo Roberto Crema. O foco central dessa nova idade é a consciência auto-reflexiva, ponto de partida para a consciência social, planetária e cósmica. É tempo do parto dessa nova consciência, que compreende a vida de uma forma sistêmica e que busca a religação do ser humano a si mesmo, à família humana, aos diversos reinos da natureza, ao universo e à Fonte de Vida.


Acreditamos que essa consciência ampliada permite-nos integrar o intrapessoal ao interpessoal e ao ambiental, levando-nos a transcender o abismo que cavamos entre o eu, o outro e o mundo. Essa é uma consciência holística porque nos conduz à percepção da teia de interconexões em que vivemos – onde tudo está interligado a tudo. Assim, percebemos afinal, que co-existimos e interexistimos com todos os seres do planeta e com o universo. A nossa cultura, filha do racionalismo científico e do iluminismo, é que nos levou a fragmentarmos tudo e à ideia da separatividade, colocando-nos fora e acima da natureza. Conduziu-nos a um grande distanciamento da Filosofia – cujo presente maior é a contínua admiração com o mundo e o exercício de um questionar ininterrupto.

Passamos a fazer parte de “um sistema que nos considera apenas como uma grande boca para consumir e sem uma cabeça para projetar”, conforme o teólogo Leonardo Boff. Contudo, qualquer momento pode ser o do nosso reposicionamento. Ainda segundo Crema, “a Idade da Consciência é, principalmente, a Idade do Eu Sou”. Eu sou responsável! Eu sou responsável pela minha transformação interna e essa mudança pessoal interferirá de alguma forma no grande sistema no qual estou inserido. Portanto, o foco central de qualquer mudança de comportamento é a consciência – objeto e instrumento de mudança. Afinal, ninguém pode obrigar o outro a pensar com um cérebro que não seja com aquele que lhe pertence. Porém, a grande maravilha é que se alguém quer se transformar, nada nesse mundo poderá impedir. E quando um ser humano se transforma, o universo se transforma. Mas a nossa arrogância é querer mudar o outro ou esperar que alguém mude o que precisa ser mudado.

 Mudanças externas podem ser estimuladoras, mas só a mudança interna nos leva à ação. E é preciso que essa ação faça sentido, para que seja internalizada e repetida no cotidiano. O sentido das ações, seu significado, está relacionado aos valores que sustentam e direcionam essas ações; o sentido é algo profundo, antecedido por compreensão e crença. É algo que vem de dentro e que se manifesta exteriormente, não é algo imposto, mas aceito porque relacionado à aprendizagem verdadeira, à vivência de cada um.

Conforme o mestre Roberto Crema, uma pessoa que despertou para essa nova consciência é uma pessoa que não se sente separada do outro, da natureza e do universo. E se ela se dá conta de que não está separada dos outros, será que é capaz de agredir o outro? Ainda que esse outro seja um animal, uma planta ou um rio? Se se percebe como parte da natureza, será capaz de poluir as águas, desmatar, ter comportamentos de desperdício, de desrespeito para com o que gera vida e é o resultado da vida? Nós acreditamos que não. Porque esses são comportamentos antiéticos, manifestação de inteligência curta e de falta de compreensão da unicidade e da interdependência da vida.

Albert Schweitzer, em sua ética baseada na compaixão e na reverência à vida, diz: “Ética é a responsabilidade ampliada ao infinito em relação a tudo que possui vida... Bom é conservar a vida e favorecê-la; mau é destruir e impedir a vida.” A grande tragédia da contemporaneidade é que não há correspondência entre o investimento realizado na tecnologia e na ciência, àquele que é realizado no mundo da consciência, da subjetividade e da ética. O resultado é o choque do ser humano com a natureza, na verdade, com ele mesmo. O resultado são aplicações tecnológicas irresponsáveis, comportamentos destruidores, consumistas, que descartam tudo e criam montanhas de lixo não reutilizado.

 Muitos povos denominados primitivos por nossa cultura, já haviam internalizado ideias e valores que as descobertas da Física Moderna têm demonstrado – apesar de muitas vezes apenas corroborarem crenças antiquíssimas das grandes tradições sapienciais. O diálogo de um grande xamã americano com um homem branco pode exemplificar isso: “- O que você faz? Pergunta o homem branco. - Eu ensino. - Mas ensina o quê? - Ensino meu povo a escutar. - A escutar o quê? - A escutar em primeiro lugar a si mesmo. E depois a escutar o outro. Ensino também que tudo está ligado a tudo. E que tudo está em transformação. Ensino ainda que a Terra não é nossa, nós é que somos da Terra.”

A Física - a ciência que talvez, mais tem andado à frente das outras, porque é a que mais tem se perguntado sobre a realidade, legou-nos uma nova e ampliada visão do mundo, a realidade subatômica. Albert Einstein, sem dúvida, um dos maiores representantes da Física Moderna, mostra-nos a necessidade de uma posição ética e ecológica frente à grande trama da vida, como forma inteligente de sobrevivência e de qualidade de vida. Abaixo, citamos um pensamento seu que enriquece esse contexto: “A vida não dá nem empresta; Não se comove nem se apieda... Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir... Tudo aquilo que nós lhe oferecemos.”

 Finalizando, queremos ressaltar que para a consciência humana, razão e sensibilidade são complementares e não antagônicas. Para a vivência de uma ecologia integral, onde o ser humano descobre-se como partícipe de todos os reinos da natureza, é imprescindível a auto-reflexão e o contato com conhecimentos que alicercem decisões responsáveis, de repercussão positiva nos níveis individual, social e planetário, assim como o cultivo da ética do cuidado e da compaixão para com todos os seres vivos.

 REFERÊNCIAS

 CREMA, Roberto. Saúde e Plenitude: um caminho para o ser. São Paulo: Summus, 1995.

 BOFF, Leonardo. Princípio de Compaixão e Cuidado. Petrópolis: Vozes, 2000.

 CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1995.


Celina Consuelo Rabello Campos – Janeiro de 2010