PASSARINHANDO
Duas colheres de açúcar
em um copo d’água –
milagrosa alquimia –
esse pouco, quase nada,
muda o dia, a vida, a poesia.
E vejo,
e me extasio,
e fico rica.
Um ipê me visita
transmutado em beija-flor.
A florada amarela,
branca, rosa dança
num adejar fluorescente.
As cores lampejam, riscam
meu olhar admirado.
As quaresmeiras, no papa-mel,
sussurram-me palavras
em néctar roxo e tons de lilás –
presença do espiritual –
puro mistério.
Andorinhas pousam nos fios
e compõem música,
pauta desenhada
em preto e branco,
ressoando notas em arco-íris.
A vida cumprimenta o dia
e celebra a poesia
com o bem-te-vi, te-vi, te-vi.
Asas reinventam a cor,
a flor, o som, o movimento.
Saíras, em echarpes,
derramam seda esvoaçante
verde e azul,
nos gerânios das jardineiras.
A mineirice desconfiada,
dessas mocinhas aladas,
faz o jogo feminino
do se mostrar e se esconder–
faz o jogo feminino
do se mostrar e se esconder–
namoradeiras em janelas –
lusco-fusco de sedução.
Meus olhos afortunados
beberam desta beleza:
cores, asas e flores de Minas
e a liberdade salta montanhas.
Com dança, cheiros e canto
voo pela rua-galáxia –
Via Láctea de luz –
escada para o infinito.
Passageira da eternidade,
viajo no efêmero.
A água açucarada
inundou-me do divino:
êxtase e unidade.
Celina Rabello – 29/03/2012
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