O ESCRITÓRIO
Havia
uma porta fechada,
a mais
aberta pra nós.
Atrás
dela, civilizações perdidas,
filósofos,
as letras, a fé,
a música, o
Direito e o amor
eram
vizinhos de parafusos,
das
revistas “O Cruzeiro”, “Seleções”,
pregos,
canivetes e da
caixa
de pomada Minâncora.
Estantes empoeiradas, o bureau atulhado,
o cofre do tamanho do desapego
e da generosidade vicentina.
O rádio Philipps, boêmio da noite,
sintonizava a BBC, de Londres,
aula prática, deleite, voo do ideal
sob o comando da disciplina caracence.
A cadeira giratória centralizava
a unidade - o viajante e a viagem.
Transpor
a porta – discussão
entre
a coragem, o desejo de colo e a timidez.
Mostrar o lado escuro para
a testemunha que é também a defesa.
Mostrar o lado escuro para
a testemunha que é também a defesa.
Despir
o pranto para um par de braços
em acolhimento:
-Você
ainda vai rir disso, filhinha.
Recolhi
as relíquias paternas do amor.
Quando
a decepção me assombra,
essas
lembranças me agasalham.
Quando a tristeza chega à sala,
corro para o colo esculpido na memória.
Quando a tristeza chega à sala,
corro para o colo esculpido na memória.
O
escritório tinha vida própria.
Ali
estocávamos nossas certezas,
nosso prumo e o aço da nossa âncora.
Vivia
fechado, mas era tão aberto!
Vontade
de saltar no tempo
e
madrugar em música e poesia
porta
a dentro.
Celina
Rabello - BH - 16/09/2015