VAGAR
No
meu vagar de pastora,
empino
pensamentos,
colho,
no reflexo das águas,
memórias, sentimentos
e
floresço em exclamações,
interrogações
e reticências.
Aparece
e se esconde,
senta-se
ao meu lado
e
foge em disparada
o
ser das coisas,
o
sentido da existência,
o
mistério da vida.
A
beleza e a finitude,
o
eterno e o efêmero
olham-me,
de través,
alternam
risos e pranto,
máscaras e verdade,
num
rodopio circular,
numa
dança carnavalesca,
paradoxo
entre a natureza e a razão.
O
eterno retorno versus
a
linearidade própria de Athená:
concentração, desfile e apoteose.
Marcham,
solenemente,
sucedem-se
em continência,
num
arremedo de honraria,
troça,
malícia e zombaria,
as
grandes e inalteráveis
perguntas humanas.
das
dúvidas e do espanto,
em
lampejos de entendimento
e
solfejos de intuição,
ouço
a música sacra
e
profana do mundo.
Numa
atmosfera quase mística,
celebro
as possibilidades
dos dois pontos
e
do travessão.
Pastora, no labirinto,
sigo o fio de luz do oriente.
Esqueço
as perguntas,
o
pasmo da vertigem
e
rendo-me ao caminho
apontado pela estrela.
Volto
ao pastoreio.
A
água ainda marulha,
as
ovelhas-pensamento
mastigam
o verde
e o eterno recomeço.
Celina
Rabello – BH, 14/08/17