domingo, 1 de julho de 2018





“A PEDRA DO REINO”




No meu reino tem uma pedra
alta, áspera, enorme.
Tudo domina como uma cátedra
esse paredão escuro e disforme.


A cada dia, olha-me o desafio:
desfraldar no alto do rochedo
a bandeira tecida fio a fio
com as cores da coragem e do medo.


A escalada é árdua, muito dura.
Subo alguns metros, avanço um pouco
e desvelo como uma pintura,
o mundo que eu pensava fosse ôco.


Mas tropeço numa ponta solta
e com tristeza e grande pasmo,
de novo, volto onde estive antes,
decepcionada e também envolta
em cansaço e forte marasmo.




Contudo, como Sísifo, recomeço.
Junto forças, ânimo, me apresso.
Para o pico da pedra alcançar
é preciso esquecer os desacertos,
seguir em frente, recriar
a fé, o foco, a fecunda esperança
da bandeira lá no topo hastear.


Aprendo a cada dia na escalada:
importante é o rumo, não a velocidade;
a conquista se dá na firme lida,
um passo, outro passo e, na verdade,
que a pedra, também, é conquistada
nos tombos e nos tropeços da jornada.





Nota: O nome deste poema foi inspirado em "A PEDRA DO REINO" - nome mais conhecido do romance de Ariano Suassuna: "Romance d'A PEDRA DO REINO e o príncipe do sangue do vai-e-volta", editora José Olympio. 


Celina Rabello – BH, 30 de junho de 2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário