segunda-feira, 18 de julho de 2011

OLHAR IMPRESSIONISTA




À muito querida e especial amiga, Maria Stael Pires Moreira - Tael, Taelzinha - cujo olhar generoso e estimulador
sempre regou em mim a semente da “Última flor do Lácio, inculta e bela”, com gratidão e afeto.

 


Meus olhos se abrem

como um oratório –

portal entre o sagrado e o profano.

A potência se transforma em ato:

supero o abismo eu - mundo.




Entre a vidente e o visível,

acende-se a centelha do sensível,

rebenta o sentido sua jaula

e no jogo do ver e ser visto

desse olhar que codifica

e abarca o mundo,

celebro a visibilidade do invisível.



E no andarilhar desses olhos

acordo lembranças, faço colagens,

registro impressões imprecisas,

contrastando luz e sombra.



Em pinceladas curtas,

sem contornos nítidos,

delineio figuras e fundo,

num pontilhismo de nuances

que rompe a ordenação

refratária do cotidiano.

 


Da paleta impressionista,

esse olhar voejante e engenhoso

cria a tela cambiante

e, na prosaica realidade do palco,

viajo no avesso da cena.



Da arte aprendo que não vejo

aquilo que vejo.

Nela me projeto e penso.

E o que vejo

é o espelho narcíseo

cristalino, transparente,

resultado e geratriz

do pensar e do sentir.




Olhar usurpador de todos os sentidos

traça seu plano de voo,

toca a luminosidade do invisível,

condensa o mistério humano.



Olhar e pensamento - estrada vicinal

em curvas e obstáculos do sentir.

Ver liberta-nos do saber,

olhar encharca-nos de ser.

Ver é linear, rápido, imediato.

Olhar é sinuoso, lento, mediado,

cheio de estilhaços e fragmentos

para a composição do todo ruminado.



Desse olhar partejante e sigiloso –

escoamento de universo pessoal –

sou arremessada às possibilidades

e ultrapasso a areia, a concha, o caramujo.

Descubro, desvelo, concebo

o outro na sua objetividade,

recém-nascido subjetivamente.




Mas se ele me olha,

torno-me sua presa objetiva.

Se me nega, me recusa,

não esboça o gesto do diálogo,

não penetro a sua nave,

não me inauguro em seu mundo,

defronto-me com a minha finitude.



Há uma dinâmica, um ritmo

em ver e olhar, em olhar e ser visto.

São expressões do duplo movimento:

eu - mundo,

mundo - eu.



 O olhar, singular e efêmero,

porque filho do ser e do tempo,

proporciona-me a gênese da vida,

ressignificando a individuação,

a alteridade e o mundo.

Criadora e criatura

espreito, transformo.



Celina Rabello – 13/06/2011














































































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