Como é bom estar aqui
rodeada de verde,
desta chuvinha pingante,
ao lado de dois cachorros
que dormem a paz do lugar.
ao lado de dois cachorros
que dormem a paz do lugar.
Paira aqui uma certeza
faltante na vida moderna:
tudo está em seu lugar.
Esta mangueira frondosa
só podia estar ali.
A casinha de bonecas
e aquele vaso de flores
ocupam, tão docemente,
o destinado espaço,
que gosto, aprovo, concordo:
tudo está em seu lugar.
Tanta folhagem diversa,
tantos tons e semitons.
Mesmo as nuvens cinzentas
foram todas pinceladas,
arrumadas e matizadas
para o sossego reinante.
Tucanos, em duplas simétricas,
passam em plano de voo
com o objetivo traçado:
colorir o gris deste dia
com passeio geométrico,
em desenho articulado.
Pitangas e laranjeiras,
jabuticaba e limão,
goiabas e bananeiras,
beijinhos, lagos, rolinhas,
conduzem à grande calma,
silêncio, leitura e oração.
Neblina pede aconchego.
Debruço-me sobre mim mesma
e surge a menina acanhada,
pensativa, sonhadora,
que desenha horizontes
utópicos, transfigurados.
A tarde passa ligeira,
correndo na contramão
da minha vida de espera,
do meu sonho de descanso
e produção de poemas,
encontros no labirinto,
descobertas, meditação.
Nas brechas do cotidiano
o que busco é o viço,
é a quietude, é a paz
de um lugar como esse,
onde a alma da gente
repousa no coração:
pulsa, respira, e sonha
e voa com a imaginação.
Celina Rabello – 28/03/13
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