Transborda em mim
a saudade do não vivido,
desborda o não sentido,
o não experimentado,
o não descoberto.
O sentimento a ser compartilhado,
a emoção potencializada,
o desejo não partejado.
A borda, esta esquina do caos,
morada do perigo e da criatividade,
grita: voar é o fim da lagarta,
para a segunda margem
há a travessia.
O tempo e a distância tramaram desencontros,
fecharam entradas, esconderam saídas,
impossibilitaram-me o encontro com
Antônio Frederico de Castro Alves.
Não declarei a ele o meu amor,
seus poemas não celebram meu nome.
Assalta-me a angústia
transvestida da impossibilidade
de descobrir pessoas,
de desvendar mistérios,
de partilhar a vida.
O silêncio - essa palavra muda -
reanima lembranças, episódios malogrados,
tesouros confiscados,
vivências canceladas ad aeternum.
Acordou em mim
o que deveria estar dormindo.
O sonho - este louco equilibrista -
confunde idades, etapas da vida,
e mistura e embrulha tudo
e nos devolve o pacote de histórias
inacabadas ou insatisfeitas
com seu caminho e desfecho.
Teimosas, essas histórias
vividas e não vividas
clamam reinvenção:
Era uma vez...