LUZ
Abro
as asas do dia.
Trezentos mil quilômetros
e
um segundo:
risco
o céu, rasgo véus,
posso
incendiar a chuva.
Atônita
de azul,
bêbada
de claridade,
a
manhã boceja e vacila,
surgida
do opaco.
Sem
estatuto de valia,
uma
saudade hieroglífica
põe
silêncio e quebranto
na
beleza-menina do dia.
Faísco-lhe
a barra da saia,
esquento-lhe
o corpo alvacento.
Em
vão atravesso o vento,
não
toco o seu coração.
A
manhã, beleza-menina,
toda
vestida de brilho,
não
perde a dor do olhar,
o
roxo pinta o amarilho.
Avança
a madureza do dia
e
a sombra sem alarde,
sob
o peso do quebranto,
turva
meu brilho na tarde.
Nas
asas entorpecidas
do
dia, que vira noite,
essa
saudade vivida,
queimando
como um açoite.
A
noite, em metamorfose,
despe
a casca do quebranto.
Faz
amor com as estrelas
e
adormece em acalanto.
Gira
a roda da vida,
gesta
outra esperança.
Novo
ciclo, novo dia,
luz
e sombra em aliança.
Celina
Rabello – 27/05/2015