quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011




FLOR SALVÍFICA



Ao meu filhinho, Marcus Vinícius Campos Bandeira, que com seu trabalho
 de reciclagem de cartuchos para impressoras coopera, ativamente, 
com a preservação da natureza.






O homem postou-se em um pedestal
e criou a separatividade.
Colocou-se como rei do reino,
que fragmentou e mutilou.
Hoje, posa de bobo da corte
dando tiros no escuro,
sem retirar as vendas dos olhos.

Como recuperar o paraíso perdido
depois de, insandecidamente,
envenenar Gaia – a mãe Terra?
As montanhas do seu corpo estão feridas,
as águas límpidas dos seus olhos, poluídas
ou estancadas em soluço contido.
O verde de seus cabelos está gris
de tristeza, pela morte
que se apossa do que é vida.

Deprimida, ela explode em tremores,
pranto inundante,
vômito de fogo.
Tenta sacudir seus filhos cegos à sua dor,
surdos aos seus apelos,
mudos na defesa do seu ser,
duros de coração.

Quando iremos compreender
a grande teia amorosa
em que estamos inseridos?
Quando entenderemos a irmandade
bordada pela genética, no código da vida?
Quando aceitaremos o cuidado, a compaixão,
e a reverência, como pilares da ética?

A unicidade clama que a inteligência
revele a sua verdade
e desvele o mandamento da sagrada partilha.
Sem amorosidade e solidariedade
não há futuro para a Terra nem para os filhos da Terra.
Interdependência é a palavra,
cuja aceitação salvífica
precisa de abrigo interior.

Nós “co-existimos
e interexistimos” com todos os seres.
A ética da compaixão reafirma
a irmandade planetária,
a interligação de todos os fenômenos.
Somos unos com o universo.

Na estreita trilha da individuação
é preciso circuncisar o verbo fragmentar,
para que da realização da própria semente
brote a inviolável flor da inteireza.


Como estrelas dançarinas,
novos valores emergem do caos.
São “pérolas sobre a mesa” da vida,
à espera que “o fio da espiritualidade
alinhe e amarre” o colar sistêmico
da Ecologia Integral.



Celina Rabello - 28/03/2010 















2 comentários:

  1. Li seu poema, lá no Brasil das gerais, resolvi compartilhar em meu mural no FB, para que ,mais pessoas pudessem ler esta beleza de literatura ambiental.Parabéns Celina Rabello,seu poema é de uma sensibilidade incrível.
    Abraços

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  2. Sissa, desculpe-me, só hoje, 22 de abril (dia da Terra), ao vir a esta página para colocar este poema no meu Facebook, como um grito de socorro a favor da natureza, vejo seu generoso comentário. Muito obrigada! Vou procurá-la no FB e desde já convido-a a fazer parte da minha lista de amigos (Celina Rabello). Terei o maior prazer em ler suas publicações e tentar conhecê-la um pouquinho. Grande abraço.

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