CARNAVAL
Carnaval e máscaras.
Máscaras e vida.
Vida de máscaras.
Máscaras sem vida.
a cuíca chora.
A fantasia guardada,
aquela mesma, adiada,
cheira a mofo e esperança,
mas é a própria fiança
de viver sua utopia.
Desvestir o cotidiano,
assumir a alegoria,
transvestida de alegria
paciente e embolorada.
Ajustar a máscara,
acertar o passo
e entrar no bloco
do faz de conta;
novo elo, nova corrente,
outro conto, novo foco,
delírio onírico, folia.
Folia que é sonho
e apazigua a mente
da loucura proibida
de viver o cotidiano
de modo transparente,
mostrando, no fora, o dentro
reprimido e, mascarado.
Sambar, brincar, cantar,
é calar o pensamento,
aquela matraca interna
que julga, critica e aponta
e mesmo sem se dar conta,
mata sem planejamento.
Carnaval é alforria.
E sem nenhuma ironia,
redenção da fantasia
que em espasmo sufoca,
sob a régua e o compasso
do pesado dia-a-dia.
É a vez do impossível,
agora é o inusitado.
Limite é coisa de ontem,
tristeza é coisa passada.
O coração bate em música,
as ondas chegam aos pés
e os quadris serpenteiam,
decretam o fim do revés.
Liberdade, liberdade,
uma outra conjuração
ensaia o seu veredito.
Não só na pátria mineira,
mas na nação brasileira
que sonha, trabalha e quer mais.
Não viver da fantasia,
só vestir a alegoria
pra brincar e por prazer
nos cordões e batucadas,
que na luz e madrugadas,
poesia em purpurina,
em confetes e serpentinas
espalham em algazarra.
Festa acabada,
máscara trocada.
Novo som, novo apito,
comandam o agito
de parafusos apertados.
O Grito - do norueguês e expressionista Edvard Munch - 1893 |
E a tela de “O Grito”
ganha vida, renasce
na ponte, na fábrica,
nas ruas e casas
credoras, pendentes
na conta corrente
da pura alegria,
dos dias passados.