quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

 

 PROPOSTA 

Tela de René Magritte - Hospital da Sacada


Enfileirados, elegantes e eretos

desafiam o marasmo, a quarentena.

Cada um disputa a minha atenção.

Um me promete aventura,

o outro, reviver um amor.

Aquele deseja penetrar minha intimidade,

este, apenas me dar prazer.


Tela de René Magritte

 

Um, romântico, começa a declamar,

meu coração dispara.

O italiano pretende me seduzir.

O francês joga seu charme...

E o alemão, circunspecto, fala-me de filosofia.


Mas o mineiro, em sua roupa enjambrada,

quase rota, ostenta a certeza de ser amado,

 desejado até. Cai em meus braços.

Eu o aperto, apalpo, meus dedos tremem

e se fundem com seu corpo desgastado.

Vamos para a cama - nosso lugar sagrado –

e rolamos pelas veredas dos grandes sertões.


Tela de René Magritte

 

Um fio invisível - o verbo - nos une

 e conjuga em diálogo sinuoso.

Cavamos lembranças novas e antigas,

descobertas acontecem a cada curva

 e a leitura se eterniza em aprendizagem.

 


Celina Rabello – Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2020