quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

 

 PROPOSTA 

Tela de René Magritte - Hospital da Sacada


Enfileirados, elegantes e eretos

desafiam o marasmo, a quarentena.

Cada um disputa a minha atenção.

Um me promete aventura,

o outro, reviver um amor.

Aquele deseja penetrar minha intimidade,

este, apenas me dar prazer.


Tela de René Magritte

 

Um, romântico, começa a declamar,

meu coração dispara.

O italiano pretende me seduzir.

O francês joga seu charme...

E o alemão, circunspecto, fala-me de filosofia.


Mas o mineiro, em sua roupa enjambrada,

quase rota, ostenta a certeza de ser amado,

 desejado até. Cai em meus braços.

Eu o aperto, apalpo, meus dedos tremem

e se fundem com seu corpo desgastado.

Vamos para a cama - nosso lugar sagrado –

e rolamos pelas veredas dos grandes sertões.


Tela de René Magritte

 

Um fio invisível - o verbo - nos une

 e conjuga em diálogo sinuoso.

Cavamos lembranças novas e antigas,

descobertas acontecem a cada curva

 e a leitura se eterniza em aprendizagem.

 


Celina Rabello – Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2020

 

 

 

terça-feira, 30 de junho de 2020




   


Á minha filhinha - ANA LETÍCIA - pelo seu aniversário (05/07), como memória viva do colo que já nos demos e que tanto fortaleceu nossos laços de amor.





Aberta a porta do escritório,

corri para o colo – raiz de afeto.

As lágrimas convulsivas afogavam

meus 15 anos decepcionados com o amor.



Os braços acolhedores

atravessaram o medo e a dor.

A curva do aconchego

expôs a confissão soluço.

O colo-abrigo embalou comovido

 a frágil menina

que se pensava mulher.




O colo paterno nutriu e acalmou

a arritmia que se fez suspiro.



Na verdade, colo é herança,

 solo sagrado para a firmeza dos passos.

Delicada memória,

nó que sustenta os laços

e perpetua o amor. 




 Oferece colo, quem conhece colo -

esse ninho incólume -

nascido da pura alma

capaz de ofertar a calma,

 a calma que só um colo tem.



Celina Rabello - BH, 19/06/2020



sábado, 27 de junho de 2020




BOLINHAS DE GUDE


BOLINHAS DE CHINA


 BILA - BIROSCA





Sol rachando no céu

e o jogo vai começar.

Círculo traçado no chão.

Emoção suspensa no ar.



Dois traços em lados opostos,

jogadores atrás das linhas.

Azulam e esverdeiam no centro,

de gude, treze bolinhas.




Na mão, para jogar,

uma bolinha maior.

É preciso acertar

uma bolinha do meio.

Fazê-la do limite saltar,

sem a atiradora levar

em perdido chicoteio.


  

Sorteia-se quem vai começar.

Da emoção, é aberta a porteira.

Nós dos dedos apoiados no chão,

a mirada deve ser certeira.

O jogador com o dedão

 lança a bolinha, a sorte, o coração. 



A atiradora põe uma verdinha,

rápido, pra fora do círculo.

O jogador se anima,

sua respiração é forte -

ganhou um ponto,

uma azulzinha,

 volta a jogar, crê na sorte.




-Nóóó! - Nossa! -Nossa Senhora!

Da plateia, o repertório ardoroso

ao jogador anima e  incentiva.

Mas, as palavras ruidosas

podem se tornar raivosas

e até mesmo belicosas.


De novo, a atiradora é lançada.

Erra, agora, o jogador.

Mas, é pássaro sozinho

o lamento da sua dor.



O adversário assume o jogo.

Na partida, corpo e alma.

A brincadeira continua -

técnica, regras e calma.


A plateia acompanha, fiscaliza,

palpita, torce e grita.

A molecada inteira no jogo,

o tempo pra eles não existe.





Os meninos treinam as regras,

o competir, o ganhar e o perder.

Ensaiam comandar sua trajetória,

rabiscam o preâmbulo de sua história

ao jogar, ao brincar, ao viver!




Celina Rabello – BH, 24/05/2018