segunda-feira, 9 de julho de 2012

ERA UMA VEZ...





 Transborda em mim

a saudade do não vivido,

desborda o não sentido,

o não experimentado,

o não descoberto.

O sentimento a ser compartilhado,

a emoção potencializada,

o desejo não partejado.



A borda, esta esquina do caos,

morada do perigo e da criatividade,

grita: voar é o fim da lagarta,

para a segunda margem

há a travessia.



O tempo e a distância tramaram desencontros,

fecharam entradas, esconderam saídas,

impossibilitaram-me o encontro com

Antônio Frederico de Castro Alves.

Não declarei a ele o meu amor,

seus poemas não celebram meu nome.


 

Assalta-me a angústia

transvestida da impossibilidade

de descobrir pessoas,

de desvendar mistérios,

de partilhar a vida.


O silêncio - essa palavra muda -

reanima lembranças, episódios malogrados,

tesouros confiscados,

vivências canceladas ad aeternum.




Acordou em mim

o que deveria estar dormindo.

O sonho - este louco equilibrista -

confunde idades, etapas da vida,

e mistura e embrulha tudo

e nos devolve o pacote de histórias

inacabadas ou insatisfeitas

com seu caminho e desfecho.



Teimosas, essas histórias

vividas e não vividas

clamam reinvenção:

Era uma vez...



 


Celina Rabello – 03/07/2012