AÇÃO PROCESSUAL
Eu vou te processar
por este sonho sofrido,
por este amor não vivido,
pelas perdas e danos,
por todos os desenganos
e por ter te
escondido
atrás de terras e mares,
sem nunca ter te mostrado,
nem ter mandado
notícias
e nem sequer um retrato.
Eu vou te processar
pelos meus braços pendentes
à espera do teu abraço.
Pelas lágrimas pingentes
e pelos beijos não
dados.
Pelos entardeceres tingidos
de saudade e soluços,
pelos regatos cantantes
e cachoeiras espumantes
deste tempo escorrido,
esgarçado e corroído
que nunca aproveitamos.
Eu vou te processar
por não ter acarinhado
o teu cabelo escuro,
crespo, loiro ou
ondulado.
Eu vou te processar
pelas músicas não dançadas,
pelas viagens ensaiadas,
pelas velas acesas
e arrumadas com arte
em mesa grávida de espera.
Eu vou te processar
por não ter me mandado flores
e nem compartilhado as cores
de tuas vitórias e dores,
vividas em longas tramas
de doze meses por ano.
Eu vou te processar
e esta minha petição,
toda manchada de
lágrimas,
há de encontrar razão
junto ao Juiz Maior e Divino,
Aquele a quem os
homens –
simples, reis ou
doutores –
dobram os próprios joelhos
e se prostram em adoração.
Criador e Salvador,
para Ele o amor,
resume todas as leis.
Como vais te defender
sem expor a tua face,
com tuas mãos tão vazias,
com teu discurso em branco
e o coração que nem
bate?
Sem embargos à execução
da sentença judicial,
o teu delito requer
pena bem clara e expressa:
aparece, mostra teu rosto,
e diante do exposto
assume perante o
mundo,
que nem mais um segundo
viverás longe de mim.
Por minha vez eu prometo
te cobrir de beijos e afagos,
por fim a esse litígio,
requerer a absolvição
para o teu feio delito
de deixar-me à beira do abismo
sem lua, sem música,
sem canção.
Ah! Amor da minha vida,
para ti me vestiria
de vinte anos, apenas,
despiria com as rendas,
a angústia desta espera.
Tu não fazes nem ideia
do que perdeste em carinho,
dos cuidados e mimos
só para ti reservados.
Vem, de uma vez, sem demora,
meu coração apenas bate,
pelo fim deste embate,
e por quem rápido desate
as pontas desta distância,
mudando este descaminho
em ponte feita de abraços.
Celina Rabello – Belo Horizonte, 06/11/2015