PRUMO
Aprumar-se.
Como bom pedreiro,
alinhar a esquerda e
direita,
um olho no alicerce
e outro na cumeeira.
Montar o touro de
Creta
e comandá-lo de volta
ao continente.
Ser antena viva que
interliga céu e
terra.
Imersa na rede
imanente,
nas exigências
prosaicas,
viver o transcendente:
“enraizamento e
abertura”. 1
Manter a tensão que
alinha,
alinhavando criatividade
e produção,
numa dança de leveza
e flexibilidade.
Eta malabarismo
circense!
Dar vazão aos
sentimentos,
e não se afogar na
emoção.
Considerar o logos,
ouvir a lógica,
sem ignorar o coração.
Respeitar a
experiência
e, ainda assim,
ousar, arriscar, renovar.
Portar a tocha da
lucidez,
dar a vitória ao
discernimento,
sem, contudo,
desprezar a loucura,
a coragem de ir além,
de brincar de equilibrista,
de rir de si mesma,
do camundongo
transvestido de leão
e do lobo fantasiado
de cordeiro.
E, no fundo do poço,
sacudir a terra que
lhe cai em cima.
Fazer, do suposto
túmulo,
uma escada para o
infinito.
Perder o medo de
escorregar.
Aprumar-se,
sempre!
1- Expressão usada por Leonardo Boff, ao abordar imanência e transcendência em seu livro "Tempo de Transcendência"
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