domingo, 19 de julho de 2015




TEMPO 



  
Ao meu pai, Dr. José Rabello Campos, a quem nunca faltou 
" o engenho e a arte" . Pelo menos para os seus filhos e para aqueles
 com quem, amorosamente, conviveu cumprem-se as palavras
 do grande poeta Camões, na segunda estrofe de Os Lusíadas:
 “E aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. 


No princípio era o caos.
Amarrados à matéria-forma,
pulsamos no tempo,
essa presença recôndita em tudo.


Aprisionados em seu labirinto,
somos condenados a decifrar
o sino, o relógio, o cronômetro
e a esfinge.
A resposta envolve o tempo,
que escorre em emboscadas.




Malabaristas nas pinguelas
do  passado e do futuro,
com só um pé no presente,
habitamos um espaço
 que não é aqui.


Confundimos sentimento com relógio,
o apito com nossas entranhas,
o momento oportuno com o linear.
Profanamos o carro sagrado de Apolo
e somos devorados
pelo deus que comanda as horas.




Só toca o coração do tempo
quem descobre seus segredos -
tempo divergente, convergente e paralelo,
 fugitivo desapegado.
Sem compreendê-lo, sem aceitá-lo,
repetimos o tolo coelho de Alice:
“Estou atrasado, estou atrasado...”




A vertiginosa rede do tempo
abarca todas as possibilidades.
Somos no tempo, é inexorável,
porém, desejamos a eternidade.


Sem adentrarmos seu curso,
não existe o “carpe diem!”, 1
apenas um rio
de memórias e de sonhos.


Celina Rabello -16/07/2015



1. Expressão latina encontrada no poema "Odes" , de Horácio,  poeta romano,  e que significa "aproveite o momento", sem medo do futuro.



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