terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


FILHA DA TERRA

Aos meus irmãos: Lupciano, Annette e Eduardo, pela alegria da vida familiar, experiências comuns e toda herança compartilhada.
 Pelo amor que nos une - minha gratidão profunda.


Sou essas montanhas de mãos dadas,
longos braços erguidos de Minas,
verticalidades em adoração,
que olham para o infinito
perguntando-se sobre a vida
e permanecem em silêncio, estáticas.

Eu sou a pedrinha do rio,
rolada pela correnteza,
quebrando minhas arestas.
Submersa, muitas vezes,
vou descobrindo no fundo,
um rio muito diverso:
raízes, pedras escuras,
resíduos de vida e de planos,
retalhos de sentimentos.

Sou a terra sulcada pela enxada,
crestada pelo sol ardente,
que chora pelo orvalho da noite
 e transforma em vida, a semente.

Também o trovão e a faísca,
enlouquecidos pelo vento,
sinais de vida e de morte,
intempestivos.

Sou a estrada de terra batida,
que serpenteia vales e montes,
trazendo e levando lembranças
nas pegadas dos passantes.

A árvore prenhe de esperanças,
florescendo na doce espera dos frutos.
E aquele sonho corajoso e persistente,
que a cada noite se manifesta
e como uma carta insistente,
espera ser aberta.

E ainda a leoa destemida,
que na defesa dos filhotes
é capaz de qualquer lida.
Para o sustento da família
enfrenta hienas e brigas,
e no mais duro embate
resiste às investidas...



  E também aquele olhar
de sonhos inebriado
e muito extasiado
frente à vitrine da vida.    
 Às vezes, pareço a garotada,
em viagem inesperada,
com a tristeza engavetada
e a alegria na bagagem.

Também espelho aquele sino,
que mesmo no sol a pino,
não deixa de badalar.
Lembrando a todo vivente,
do tempo - a fugacidade
e que a verdadeira proeza,
é sempre seguir em frente,
contando com o Onipotente,
em Quem está a verdade.


Sou ainda Consuelo
e nunca me neguei ao apelo
de confortar um amigo.
dos Campos - a inteligência,
dos Rabello - a persistência,
dos Aguiar – o coração.

Sou toda essa mistura
de virtudes e defeitos,
herdados com muita honra.
Muitos foram cultivados,
alguns desaprendidos,
e outros acrescentados.
E em toda essa massa,
também me ilumina,
ter recebido a graça
do pré-nome de Celina.

Minhas raízes antigas,
dos cafezais e da cana,
são fortes, profundas,
são doces cantigas
sagradas e profanas.

Mas nos jardins e nos lírios,
nas compotas, nos doces,
nas quitandas, bordados
e nas frutas de cera,
foi tecida minha teia,
nas mineiras maneiras
de afeto e ternura,
de quietude e de paz.

Os cascalhos das serras
do São Bento ao Caraça,
os estudos, os livros,
as salas de aula,
são memórias inscritas
nos veios e nas veias,
são exemplos de luta,
herança sagrada-
ouro velho escondido,
do ladrão e da traça.

Sou filha da terra,
do solo encharcado,
de trabalho e justiça,
de amor e perdão.
Das doces palavras,
dos mimos maternos,
dos afagos paternos,
de cuidados tão ternos,
de valores tão finos
da fé e da afeição.




Foram tantas as pontes,
pinguelas, porteiras,
vividas, sofridas,
para chegar aqui.

Foram muitas as lavras,
tropeços, conquistas,
garimpos e apuros
que me trouxeram aqui.

Sou filha da terra,
de lutas e guerras,
de zelo e de paz.
Sou fruto curtido,
com cuidado esculpido,
por lavor próprio e labuta
dos meus ancestrais.

Celina Rabello - 21/09/2009


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