terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



IMAGEM FUGITIVA



Esforço-me para reter a sua imagem
já bastante enevoada.
Não me ficou um só retrato.
Os clics dos meus olhos,
amorosamente, te fotografaram.

Sua altura de deus grego,
ou era de cowboy?
Sua altura ainda me enlaça,
força-me a olhar o alto, laça-me.
Conduz meu pensamento.

Seu porte esguio.
O cabelo liso em noite de eclipse.
O sorriso sem hora e sem data.
Seus dentes...
Ah! Seus dentes...

As roupas simples de estudante.
A jaqueta verde agasalhava-me
em veludo e carícias.
A roupa de cinema... Camisa fio escócia
uma preta e outra salmon.
A calça jeans surrada.

O primeiro encontro - grande fatalidade.
Prenúncio da impossibilidade.
As possibilidades...
Cronos já me rouba todas.
Devora-me.

As retinas desobedecem ao coração.
Sua imagem não mais tão viva, tão clara.
Sinto-me roubada pelo nunca.
Atraiçoada por seus passos fugitivos.
Abatida por seu olhar
que se perdeu no tempo
das estradas de Minas.
Meu tesouro enterrado.
Que garimpeiro me socorre?

Tentei negar você em minha vida.
Mas essa ferida é diabética,
sofre os efeitos do seu açúcar
e do acorde grave de sua voz,
que a distância não capturou.

Oh! Senhor dos Passos,
que paço esconde seu abraço?
Que lua encobre sua figura?
Há de mim uma memória?

Nas minas dos sonhos,
incógnita, sua figura espreita-me;
se acende em lembranças remotas.
Bendigo todas – ópio e delírio.
Reúnem caminhos do “Y” invertido.

Sou mina d’água murmurante
a desenhar espaços, a cada passo,
a cada traço – nova bússola
para o seu seqüestro.
 Minha saudade ressoa.
Reverbera nos desertos do dentro.
Cai no poço do seu silêncio esfinge.
Sua lembrança é céu poente.
Sonhos inacabados.

Onde está o amanhecer da sua imagem?



Celina Rabello – 24/10/2009









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