segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PALAVRAS




Com ternura, à minha maninha Annette Maria Campos Leite, maior Professora de Português
e de Redação, dentre os muitos especialistas que conheci.


Palavras, palavras, palavras...
São muitas as lavras
poucas as pás.

  São lavouras e  
 campos,
 garimpos e minas,
 que espreitam as
 pás fracas,frágeis, 
 temerosas,
 loucas, turvas, corajosas,
 que saltam da minha pena.
 E lavoram, arduamente,
 expressando tão somente,
 o que vai no coração.

E com essas poucas pás,
é custoso ordenar
cada etapa já vivida.
Mas as palavras despontam
de forma independente,
de modo inconfidente
ou fazendo confidências
aos ouvidos conjurados
ou mesmo desconjurados,
muito mineiramente.

Palavras há ardilosas,
pegam você distraído,
pulam da boca pra fora,
e não temem as conseqüências.

Outras bastante prudentes,
sem mostrar nenhuma pressa,
com enorme transparência,
oferecem grande apoio
a qualquer necessitado,
tranqüilas como um arroio.

Há algumas muito ternas,
disponíveis ao carinho
daqueles seres tão meigos,
que florescem nos caminhos
da vida de qualquer um:
seja culto, pobre, simples,
rico, alegre ou pessimista.

Chegam na hora certa,
quando você desconfia,
daquela tal segurança.
Seu pé está no fundo,
e não há ninguém no mundo
que te dê uma esperança.

Palavras são modelos -
elegantes, sensuais.
Desfilando em passarelas
de grande intimidade,
vão causando arrepios
nos navegantes dos rios
do amor e dos desejos.
Provocam grande frisson,
especialmente, ao som
do sussurro e do murmúrio.

Existem as agressivas
que iniciam as guerras,
ocasionando estragos
difíceis de consertar.


Como louça rachada,
só cola especial,
esforço e muita arte,
para que a tal fachada
mostre que não houve nada.
Porém, o interno revela,
a imensa rachadura
produzida pela luta,
supostamente acabada,
quando a mesma disputa,
e a hostilidade nascida,
na alma ainda perduram.

Palavras são corredeiras,
difíceis de controlar.
Saltam na sua frente
ou fogem como serpente,
penosa de segurar.



Carregam para o seu leito
saudades, planos, lembranças.
Transformam tudo em conceito,
brigam com o pensamento,
disputam a sua fiança
e todo discernimento.

Se esquecidas da origem -
como filhas do silêncio -
tornam-se então orgulhosas,
ficam cheias de empáfia,
e como se em vertigem
resvalam em sua bazófia,
escorregam no descrédito,
abandonam a lucidez.


Mas, se ouvem a razão,
apesar da emoção,
recuperam a altivez.
São capazes de doçura
e toda suavidade.
Mesmo em verdades duras
usam de toda brandura.
Curam antigas feridas,
plantam novas sementes.
Garimpam outras palavras
em bateias peneiradas,
e como gemas, lapidadas.

Alegram e valoram a vida
do garimpeiro poeta,
que escava a sua mente,
na procura consciente
da visão e do sentido
e da palavra certa.

Celina Rabello – 11/09/2009









Nenhum comentário:

Postar um comentário